ITAIMBEZINHO e FORTALEZA
André Costantin

Itinerário dos Cânions

No outono de 2022, realizamos viagem precursora aos Aparados com Carlos Delphim. Depois fizemos outras três incursões à região, durante o inverno, com ênfase nos sítios do Itaimbezinho (Parque Nacional de Aparados da Serra) e Fortaleza (Parque Nacional da Serra Geral), no município de Cambará do Sul (RS), nos limites dos campos altos do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

O Itaimbezinho é o mais conhecido de uma série de cânions que aparam abruptamente os campos de altitude do Rio Grande do Sul, com paredões verticais de até 700 metros de profundidade, cobertos no alto por densa vegetação, de onde sobressaem as araucárias, ao longo de 5,8 quilômetros do desfiladeiro.

Mais ao norte está o cânion Fortaleza, uma outra paisagem, tão próxima e tão longe esteticamente, com campos abertos e penhascos que insinuam marés de magma. Ambos os sítios ficam no território de Cambará do Sul, a 190 quilômetros de Porto Alegre, reconhecidos recentemente como geoparques de interesse mundial pela UNESCO.

O próprio termo Aparados da Serra tem seus contornos geográficos e de uso linguístico um tanto imprecisos, ao nominar de modo geral o recorte de abismos que se estende entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Como viajante dos Aparados, tenho na memória um mapa parcial – e emocional – das fendas abissais que começam no cânion Josafaz, ao sul do Itaimbezinho; ao norte, os peraus do Malacara, da Fortaleza e do Monte Negro – este último em São José dos Ausentes, onde, à beira do abismo, ergue-se o pico do Rio Grande do Sul, com 1.410 metros.

A dança dos peraus eleva-se do lado de Santa Catarina, entre serras e estradas quase impossíveis, como as do Corvo Branco e do Rio do Rastro; e peraus mirabolantes, entre eles o Espraiado e o Morro da Igreja, passando dos 1.800 metros de altitude, em Urubici. Muitos outros abismos se escondem na paisagem dos Aparados.

No recorte deste projeto, orbitamos pelo território de Cambará do Sul. Descemos e subimos as serras circundantes, acessamos caminhos vicinais e as sedes de antigas fazendas, fomos até os Ausentes ver os mangueirões de pedra da Vila Silveira – onde gravamos depoimento com Carlos Delphim, base do documentário que integra o acervo de Paisagens Profundas.

Além do autor convidado, Delphim, a equipe de campo foi integrada por André Costantin (direção geral do projeto), Daniel Herrera (fotografia e produção executiva) e Geni Onzi (pesquisa e produção).